SELETIVIDADE ALIMENTAR E O AUTISMO

O que é seletividade alimentar?

A seletividade alimentar é um problema bastante comum em crianças com transtorno do espectro autista (TEA). Crianças com autismo podem ser extremamente seletivas em relação a alimentos, têm hábitos rígidos e dificuldade de provar o novo. Estima-se que 46 a 89% das crianças com TEA apresentem este problema.

Primeiramente, antes de iniciar qualquer intervenção, é importante descartar eventuais condições clínicas que possam estar gerando as dificuldades de alimentação, tais como: refluxo gastroesofágico, alergias ou intolerâncias alimentares. Qualquer problema médico subjacente deve ser tratado antes da implementação de um programa de alimentação. Enquanto estiver em andamento algum tratamento médico, pode-se proceder a uma avaliação comportamental da criança.

Primeiro passo

Ao tratar uma criança com seletividade alimentar, o primeiro passo é fazer um histórico alimentar bem detalhado. É preciso um levantamento junto aos pais sobre as primeiras experiências da criança com o aleitamento materno ou com mamadeira, a transição para a comida de bebê e como eles lidaram com a passagem para alimentos mais sólidos. 

Em seguida, faz-se um diário atualizado da alimentação.

Também é muito importante reunir informações sobre as condições em que a criança faz as refeições. Lembrando que o levantamento deve ser o mais específico e detalhado possível.

  • Acriança se senta à mesa para as refeições? Ou fica “beliscando” salgadinhos durante o dia?
  • Os horários das refeições são previsíveis e ocorrem em intervalos regulares programados e sempre na mesma hora do dia – existe uma rotina? 
  • A criança come apenas um tipo específico de alimentos? 
  • A criança come apenas um sabor (por exemplo, iogurte de morango / banana)? 
  • Como a comida é apresentada? 
  • Quanto tempo dura uma refeição típica? 
  • Quais são os comportamentos da criança ao recusar um alimento? 

Causas da seletividade

Existem várias técnicas disponíveis que podem ser usadas para expandir o repertório alimentar de uma criança. No entanto, para definir o tratamento mais adequado, deve-se primeiro entender as causas da seletividade. Por exemplo, a seletividade alimentar da criança é devido a uma recusa simplesmente em experimentar novos alimentos ou é devido a uma dificuldade em tentar texturas alimentares diferentes? O comportamento de recusa alimentar pode vir por meio de reações como, gritar, bater, cuspir comida, etc.

Após a conclusão da avaliação, faz-se o planejamento do tratamento, começando por uma programação diária previsível de refeições e lanches. Devem ser eliminados os petiscos (doces, balas, salgadinhos) nos intervalos entre as refeições. 

A fome pode ser um motivador poderoso 

Também é importante limitar o acesso da criança a ingestão de líquidos entre as refeições, pois algumas crianças preferem beber a comer. Recomenda-se um limite de tempo de 15-20 minutos para as refeições. Ao introduzir novos alimentos pela primeira vez, geralmente é útil começar com um “alimento que já é preferido”, ou seja, um alimento que a criança costuma comer ou um que tenha sabor semelhante ou uma textura parecida com o que ela come atualmente.

Como começar

Ao apresentar o “novo” alimento à criança, comece com uma pequena porção do novo alimento para não sobrecarregar a criança e de modo a garantir uma maior probabilidade de sucesso. Alguns terapeutas usam o alimento preferido da criança como uma “recompensa” por comer o alimento “não preferido”, enquanto outros usam brinquedos / atividades como uma recompensa. Entretanto, lembrar que o que funciona para uma criança pode não funcionar necessariamente para outra. Portanto, para encontrar os motivadores mais marcantes, será preciso testar opções diferentes. Além disso, os sistemas de recompensa podem precisar ser alterados periodicamente para manter sua eficácia.

Tipos e forma dos alimentos

Ao apresentar novos alimentos a uma criança, muitas vezes é mais fácil começar com alimentos pastosos ou macios (por exemplo, iogurte, compota de maçã). O raciocínio por trás dessa sugestão é que ao aceitar uma porção de comida na boca, é quase certo que ela vai engolir. Já uma comida sólida em pedacinhos, a criança pode aceitar colocar na boca, mas não mastigar nem engolir e ainda expelir o alimento. Por exemplo, ao se oferecer frutas / vegetais a uma criança que só come carboidratos. Ela pode aceitar colocar na boca um quarto de colher de chá de purê de maçã mas não aceitar dar uma mordida na maçã. Quando a criança estiver aceitando ¼ colher de chá de purê de maçã, de cada vez,  de forma consistente (por exemplo, nove em cada dez oportunidades), você pode começar a aumentar o tamanho da quantidade para meia colher de chá. Avançar de forma sistemática e gradual garante uma maior probabilidade de sucesso. Alimentos adicionais devem ser introduzidos de maneira semelhante.

Equipe interdisciplinar de profissionais

A seletividade alimentar é apenas um exemplo de problemas de alimentação que podem ser experimentados por crianças no espectro do autismo. Alimentar os filhos muitas vezes representa um grande desafio para os pais, quando deveria ser uma tarefa fácil e agradável. 

Recomenda-se obter a ajuda de uma equipe composta de terapeuta ocupacional, nutricionista, fonoaudiólogo e psicólogo para intervenções mais adequadas.



Referência

Williams, KE & Foxx, RM (2007). Tratamento de problemas alimentares de crianças com transtornos do espectro do autismo e deficiências de desenvolvimento . Nova York, Nova York: Pro-Ed Inc.  

Artigo Original: Belchic-Schwartz, J. (2011). Canto clínico: Seletividade alimentar. 


POLÍTICA EDITORIAL: O site Seven Senses acredita que a educação é a chave para o sucesso no atendimento a pessoas com autismo, síndrome de down e distúrbios relacionados. Trabalhamos para garantir que a seleção de recursos e conteúdos sobre autismo e síndrome de down, aqui publicados, contribuam para a conscientização e apoio a famílias e profissionais que se dedicam ao autismo e à síndrome de down.

Observação: As informações contidas neste site não devem ser usadas como substitutivo de cuidados e aconselhamentos médicos.


Publicado por: Maria Aparecida Griza (CIDA GRIZA)

Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise / PUCPR    |     Especialista em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa – Gerontologia / UFSC    |    Especialista em Rede de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência / UNESC    |     Formação em Integração Sensorial -LUDENS – Campinas/SP   |     Terapeuta Ocupacional da Seven Senses – Espaço Pediátrico de Integração Sensorial – Florianópolis/SC


Gostou? Por favor, curta e compartilhe !

 

Posted in Autismo, Autista, Crianças, Desenvolvimento Infantil, Integração Sensorial, Pais e Mães, Síndrome de Down, Terapia Ocupacional, Transtorno do Espectro Autista and tagged , , , , , .

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *