Entendendo Crianças Irritadas
Uma das razões mais comuns pelas quais os pais trazem seus filhos para terapia é a preocupação com a frequente irritação da criança. Esta situação pode perturbar a família e deixar os pais se perguntando o que fazer. Embora existam muitas causas para a irritação, existem algumas estratégias que podem ajudar os pais a entender melhor o significado do comportamento da criança e quando procurar ajuda profissional.
O que é Normal?
Crianças ficam irritadas. Elas vivem o momento e acham difícil esperar ou trabalhar para obter as coisas. Quando menores, o que se vê são birras. Mas à medida que a criança cresce, as formas de expressar a irritação mudam. O que se espera é que aprendam a não agredir ou chutar, a não xingar e, eventualmente, que usem a linguagem para expressar sentimentos e resolver problemas. Torna-se um problema se a criança não desenvolver essas outras formas de expressão da irritação à medida que cresce. Normalmente, as birras começam por volta dos dois anos de idade e diminuem por volta dos quatro anos.
Na adolescência, espera-se que a criança consiga identificar e expressar emoções sem agressão. A adolescência é uma época de mudanças de humor, mas a criança deve ser capaz de expressar essas mudanças com segurança e, eventualmente, trabalhar para se acalmar e buscar uma solução.
Crianças que ficam irritadas frequente e intensamente, mesmo que não resulte em violência, podem estar sinalizando algum fator subjacente que podem prejudicar os relacionamentos e a independência.
O que é irritação?
A irritação pode ser vista como uma “emoção secundária”, que fica na superfície e pode estar mascarando emoções subjacentes mais difíceis de identificar. Essas outras emoções – medo, frustração, mágoa, decepção, etc. – são bastante dolorosas e dão uma sensação de vulnerabilidade e desamparo. A irritação pode se tornar viciante porque serve como uma espécie de anestesia emocional para conter esses sentimentos. Em vez de se sentir impotente e fora de controle, a irritação pode criar uma sensação de poder que entorpece a dor subjacente e faz com que a criança se sinta no controle da situação. Na realidade, a irritação não resolve nada porque, além disso tem que lidar com as consequências de tudo o que disse ou fez quando estava irritada. Isso pode levar a mais frustração e mais sensação de fora de controle. Mais dor e perda de controle, aumentam a probabilidade de ocorrerem novamente a irritação e os comportamentos agressivos.
O que causa a irritação?
Traumas. A irritação crônica e severa pode ser decorrente de traumas significativos e os sentimentos são tão intensos que a criança fica desesperada para escapar dessas emoções terríveis.
Pai excessivamente severo. O uso da irritação e da agressividade pode ser aprendido desde cedo. Um pai que lida com a criança por meios excessivamente severos ou punitivos pode inadvertidamente estar ensinando a criança a se comportar de maneira semelhante. A paternidade excessivamente punitiva e autoritária é um dos maiores preditores do Transtorno Opositor Desafiador (TOD) na infância.
Problemas cognitivos e de aprendizagem. Também podem resultar em formas problemáticas de expressões de irritação. A criança pode achar a escola e a vida em geral especialmente frustrantes, se não aprender com a mesma facilidade das outras crianças. O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) pode tornar mais difícil para uma criança resolver problemas e controlar os impulsos adequadamente.
Ansiedade ou depressão. Problemas subjacentes, como ansiedade ou depressão, também podem resultar em irritação intensa. Comumente, as crianças tentarão lidar com essas emoções evitando-as. Podem desenvolver interesses intensos, como videogames ou leitura, que as distraiam de sentimentos dolorosos. Quando alguém tenta lhes tirar o interesse, a criança fica sobrecarregada e desesperada por buscar outra via de fuga. Nesta situação pode ocorrer uma resposta abrupta e irada.
O que fazer?
Lidar adequadamente com a irritação geralmente envolve identificar os sentimentos subjacentes, ensinar a expressar os sentimentos e aprender a vivê-los. Por exemplo, muitas crianças podem ficar iradas em resposta ao tédio; ao precisar completar uma tarefa comum, não importa quão breve. A solução deste problema é dificultada pelos inúmeros estímulos e gratificação imediata que hoje a tecnologia oferece.
Em primeiro lugar, os pais podem ajudar as crianças mostrando como lidar com as emoções. Significa conversar com a criança sobre o que ela está vivenciando, como se sente e como vai lidar com isso. É importante fazer isso no momento da ocorrência. Por exemplo, a maioria das crianças já viu seus pais demonstrarem irritação quando ficam presos no trânsito ou quando um outro motorista os irrita. Este pode ser um bom momento de dizer à criança como você está se sentindo, quais são suas opções e o que você vai fazer.
Lidar com a irritação depende, muitas vezes, de aprender habilidades que nem sempre se desenvolvem naturalmente e precisam ser ensinadas explicitamente. Então é importante identificar os sentimentos subjacentes que a criança pode estar sentindo. Assim, mostrar à criança que ela pode ficar desapontada porque outra pessoa comeu o último biscoito, vai ajudá-la a identificar formas apropriadas de expressar o desapontamento em vez reagir com irritação.
Quando procurar ajuda profissional
Se a irritação da criança for excessiva e ela não estiver respondendo a algumas dessas estratégias, talvez seja hora de consultar o pediatra ou um profissional de saúde. Intervenções precoces geralmente resultam em tratamento mais curto e mais eficaz. Identificar outros fatores contribuintes, como TDAH ou problemas de aprendizagem, também é mais útil quando identificado precocemente. Lembrar que o comportamento de uma criança é uma forma de comunicação. Quando ela não tem a linguagem ou a habilidade para se expressar com palavras, seus comportamentos dirão o que está acontecendo sob a superfície aparente. Em vez de punir o comportamento e ignorar a raiz do problema, é mais útil tentar descobrir o que a criança está tentando comunicar e encontrar maneiras apropriadas de atender suas necessidades.
Extraído e traduzido do artigo “Making Sense of Angry Children” publicado em BRAINS POTENTIAL, por Bradley Bridges, LMSW .
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Observação: As informações contidas neste site não devem ser usadas como substitutivo de cuidados e aconselhamentos médicos.
Publicado por: Maria Aparecida Griza (CIDA GRIZA)
Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise / PUCPR | Especialista em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa – Gerontologia / UFSC | Especialista em Rede de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência / UNESC | Formação em Integração Sensorial -LUDENS – Campinas/SP | Terapeuta Ocupacional da Seven Senses – Espaço Pediátrico de Integração Sensorial – Florianópolis/SC
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