Como lidar com estereotipias?
Estereotipias, comportamentos rítmicos e repetitivos, são uma marca registrada do autismo. Cientistas e médicos há muito tempo se perguntam qual o significado desses comportamentos e como responder a eles.
As estereotipias são ações e movimentos repetitivos, que costumam acontecer em situações em que o autista se sente sobrecarregado por estímulos; estas ações repetitivas o ajudam a tentar fazer a regulação (se reorganizar internamente e processar tudo o que está sentindo).
Mesmo sendo algo benéfico para os autistas, ficar batendo as mãos, girando em círculos, balançando o corpo, vocalizando grunhidos e resmungos e outros hábitos ainda causam muito estranhamento e dificultam o convívio social. Crianças e adolescentes podem ser alvo de piadas e até sofrer bullying por causa destes movimentos.
Em realidade, as estereotipias são resultado de disfunções no processamento sensorial que dificultam a auto regulação.
Emoção incontrolável
As estereotipias são sempre uma resposta a alguma sobrecarga sensorial (como uma sala barulhenta) ou pensamentos avassaladores (como ansiedade por causa do trabalho). Seja a fonte da sobrecarga o mundo exterior ou a mente da própria pessoa, o resultado é um estado chamado de ‘emoção incontida’. Pessoas autistas podem se sentir oprimidas por sensações, novas informações e até mesmo por seus próprios pensamentos.
“Parece que ajuda a controlar”
Esses comportamentos muitas vezes também servem como uma forma de as pessoas comunicarem seu estado de espírito Participantes de uma pesquisa disseram que às vezes os estímulos são de alegria ou entusiasmo e outras vezes de ansiedade ou tédio, mas que sempre é a expressão de uma emoção. “É uma espécie de metrônomo que leva seu corpo a ir nessa velocidade”. “Parece que ajuda a controlar tudo”.
Por exemplo, agitar as mãos em momentos de atitude emocional positiva leva-os muitas vezes a levantar os braços e fazer movimentos de ondulação; ou, ao contrário, agitar as mãos devido a algum sofrimento, fazem-nos manter as mãos e os braços junto ao corpo.
Os participantes relataram que alguns familiares e amigos íntimos perspicazes sabiam como “ler” suas emoções, observando as nuances de seus comportamentos. É evidente que essa compreensão é a chave para a aceitação social da auto estimulação.
Quebrando as regras
Finalmente, a maioria dos participantes descreveu ter enfrentado rejeição social por causa de seu comportamento. Muitos se sentiram como párias sociais e eram vistos como estranhos ou imaturos.
Em resposta à rejeição, os participantes se escondiam (por exemplo, debaixo de uma mesa) ou camuflavam os movimentos (por exemplo, substituindo o agitar das mãos por movimentos de mãos e braços por outros como se estivessem jogando tênis ou xadrez) ou os suprimiam por alguns instantes (agitando-se apenas quando ficavam sozinho sem ninguém ao redor).
Um dos participantes do estudo lembrou que, quando criança, gostava de girar e balançar o corpo, mas depois percebeu que esses comportamentos não eram bem-vistos. “Mas, na verdade, ainda hoje é muito bom poder pular ou girar sem ninguém por perto. É como se estivesse quebrando regras”, diz ele.
Suprimir os estímulos está longe de ser benéfico, mostrou o estudo. O esforço para suprimir consome muita energia e faz com que as pessoas se sintam, nas palavras de outro participante, “mais nervosos ainda”. Educadores têm muitas vezes feito desviar do estímulo por meio de uma distração, mas muitas pessoas autistas dizem que o oposto é que é verdadeiro. Os autoestímulos são equivalentes a desenhar rabiscos, dizem eles, e libertam a mente para se concentrar em outras coisas.
No entanto, as tentativas terapêuticas para eliminar os comportamentos repetitivos são ainda muito comuns. A abordagem é equivocada porque retira das pessoas de um instrumento de enfrentamento. Entretanto, uma advertência: algumas formas de auto estimulação, como bater a cabeça, podem provocar lesões e justificam um tratamento. Nenhum participante disse querer se utilizar de estímulos auto lesivos, pois são involuntários.
Como ajudar: compreender e aceitar
Espera-se que haja uma maior consciência das experiências das pessoas autistas com os comportamentos repetitivos – não apenas em salas de aula, mas em supermercados, cinemas e outros locais públicos.
A maneira de ajudar pessoas autistas não é desencorajar a autoestimulação, mas abordar as razões que levam a ela: sobrecarga ou angústia sensorial.
Os participantes mencionaram várias modificações ambientais que podem aliviar a sobrecarga sensorial, incluindo tampões de ouvido e chapéus com abas para reduzir a entrada sensorial, formatos de eventos que atendam às necessidades de pessoas autistas como programações que incluam intervalos. Evidências sugerem que quando a autoestimulação não é suficiente para aliviar o estresse, pessoas autistas podem receber medicamentos calmantes ou um treinamento em autorregulação emocional.
Publicado por por STEVEN KAPP, em Spectrum | Autism Research News
Steven Kapp é pesquisador em autismo e neurodiversidade na Universidade de Exeter no Reino Unido.
POLÍTICA EDITORIAL: O site Seven Senses acredita que a educação é a chave para o sucesso no atendimento a pessoas com autismo, síndrome de down e distúrbios relacionados. Trabalhamos para garantir que a seleção de recursos e conteúdos sobre autismo e síndrome de down, aqui publicados, contribuam para a conscientização e apoio a famílias e profissionais que se dedicam ao autismo e à síndrome de down.
Observação: As informações contidas neste site não devem ser usadas como substitutivo de cuidados e aconselhamentos médicos.
Publicado por: Maria Aparecida Griza (CIDA GRIZA)
Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise / PUCPR | Especialista em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa – Gerontologia / UFSC | Especialista em Rede de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência / UNESC | Formação em Integração Sensorial -LUDENS – Campinas/SP | Terapeuta Ocupacional da Seven Senses – Espaço Pediátrico de Integração Sensorial – Florianópolis/SC
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