Hiporeatividade em crianças autistas
Pesquisas têm mostrado que as disfunções sensoriais e os sintomas associados ao autismo podem levar a muitas dificuldades nas atividades da vida diária de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA).
Uma criança autista, com transtornos sensoriais e dificuldades de comunicação, pode estar vivenciando desconforto sem poder expressá-lo.
Um estudo (Leekman et al., 2007) revelou que mais de 90% das crianças autistas tinham disfunções em vários domínios sensoriais; de acordo com Thye et al. (2018) o processamento sensorial alterado no TEA afeta áreas como emoção, resposta a recompensas, linguagem, comunicação e outras.
Identificar essas dificuldades sensoriais e buscar intervenção precoce pode ajudar a criança autista a aprender a lidar com elas.
Hiporeatividade vs Hiperreatividade
Experimentar o mundo e interagir com o meio ambiente se faz por meio dos sentidos, dos 7 sentidos. Esses sentidos ou sistemas sensoriais (visual, auditivo, tátil, olfativo, gustativo, propriocepção e sistema vestibular) coletam informações, que às vezes, devido a um transtorno do processamento sensorial de uma destas entradas, não é “decodificada” corretamente.
Como o nome indica, a hiperreatividade é uma reação exagerada aos estímulos sensoriais. Ela ocorre quando uma criança tem uma reação extrema às entradas sensoriais do ambiente. Comportamentos difíceis ou crises repentinas podem ser uma resposta a luzes, sons, cheiros e toques – estímulos sensoriais que produzem uma aceleração do sistema nervoso. Óculos de sol, por exemplo, podem ser úteis nos casos de hiperreatividade à luz.
Hiporeatividade
Neste artigo, falaremos mais sobre HIPOREATIVIDADE ou também chamada HIPORESPONSIVIDADE
A hiporeatividade é encontrada na outra extremidade do espectro de sensibilidade. Ela ocorre quando uma pessoa apresenta uma reação baixa à estimulação sensorial. A hiporeatividade fica evidente quando a pessoa tem um comportamento alterado em busca de um estímulo sensorial mais intenso.
Características de hiporeatividade
Sinais de hiporeatividade
Como muitas crianças têm dificuldade de expressão, é necessário procurar pistas em seu comportamento que ajudem a identificar esse distúrbio.
Uma criança com Hiporeatividade:
• Hiporeatividade à entrada visual
Pode cansar-se facilmente em leitura e em trabalhos escolares; pode ter problemas para enxergar o quadro geral e se concentrar apenas nos detalhes; ter dificuldade em localizar objetos no meio de outros, como itens de mercearia em uma despensa ou material impresso numa mesa de escritório.
• Hiporeatividade à entrada auditiva
Pode procurar ouvir sons, música ou TV em volume o mais alto possível, ou então colocar seus ouvidos bem perto da fonte sonora.
• Hiporeatividade a estímulos olfativos e gustativos
Pode frequentemente, colocar na boca ou lamber objetos não comestíveis, preferir sabores e condimentos fortes nas refeições.
• Hiporeatividade à entrada tátil
Às vezes, podem ter suas ações confundidas com demonstrações de valentia por causa de seu toque forte e até doloroso, abraços com muita força; para a criança hiporeativao toque tem que ser forte para poder senti-lo; também pode não sentir dor e temperaturas normalmente sentidas, e preferir deitar-se no chão em vez de ficar sentadas ou em pé.
• Hiporeatividade à entrada proprioceptiva
Pode esbarrar nos móveis e ter dificuldade em andar pela sala; ter problemas de equilíbrio, tropeçar e deixar cair objetos com frequência.
• Hiporeatividade à entrada vestibular
Para compensar sua Hiporeatividade vestibular, pode pedir para ser jogada no ar, balançar por horas ou ficar girando e girando sem ficar tonta.
Soluções para Hiporeatividade
Alguns problemas comportamentais podem estar relacionados à tentativa de busca por estímulos sensoriais.
Um terapeuta ocupacional ou um fisioterapeuta pode ajudar no diagnóstico e na aplicação de terapias apropriadas. Assim, a Terapia de Integração Sensorial além de exercícios que visem melhorar a consciência corporal e o equilíbrio, podem ser úteis.
Seu terapeuta também pode sugerir atividades sensoriais para fazer em casa. O tipo de estímulo que a criança deseja depende da natureza exata de sua condição de processamento sensorial. Para algumas crianças, atividades que requerem o uso de músculos e articulações (movimento em atividades que exerçam pressão sobre os músculos e articulações) fornecem o tipo de estímulo que desejam e precisam. Para outras, soluções simples como pijamas justos, cobertores pesados ou bolas anti-stress flexíveis podem proporcionar alívio.
Em resumo
Criança com Hiporeatividade não diagnosticada, muitas vezes pode vir a ter dificuldades na escola. Se ela esbarrar em outros colegas ou abraçá-los com muita força e, ignorar os limites e os padrões de espaço pessoal, ela pode ser colocada à margem injustamente, pois seu comportamento não é intencional e visa apenas encontrar formas de estimular seu sistema sensorial e compensar os déficits.
Senhores Pais! Terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde, podem ajudar estas crianças a terem sucesso na busca de estímulos e no tratamento do distúrbio de processamento sensorial.
Publicado em Autism Parenting Mgazine, 18 de junho de 2021
por: Yolande Loftus https://www.autismparentingmagazine.com/author/yolandeloftus/
Referências:
American Psychiatric Association. (2013). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (5ª ed.). https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596
Leekam , SR, Nieto, C., Libby, SJ, Wing, L., & Gould, J. (2007). Descrever as anormalidades sensoriais de crianças e adultos com autismo. Journal of autism and developmental disorder , 37 (5), 894–910. https://doi.org/10.1007/s10803-006-0218-7
Taylor, E., Holt, R., Tavassoli , T. et al. O quociente de percepção sensorial com pontuação revisado revela Hiperreatividade sensorial em mulheres com autismo. Molecular Autism 11, 18 (2020). https://doi.org/10.1186/s13229-019-0289-x
Thye , MD, Bednarz , HM, Herringshaw , AJ, Sartin , EB, & Kana, RK (2018). O impacto do processamento sensorial atípico nas deficiências sociais no transtorno do espectro do autismo. Neurociência cognitiva do desenvolvimento , 29 , 151-167. https://doi.org/10.1016/j.dcn.2017.04.010 Zachor , DA, & Ben- Itzchak , E. (2013). A relação entre apresentação clínica e interesses sensoriais incomuns em transtornos do espectro do autismo: uma investigação preliminar. Jornal de autismo e transtornos do desenvolvimento , publicação online Advance. https://doi.org/10.1007/s10803-013-1867-y
Publicado por: Maria Aparecida Griza (CIDA GRIZA)
Especialista em Saúde Mental. Psicopatologia e Psicanálise / PUCPR, Especialista em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa – Gerontologia / UFSC, Especialista em Rede de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência / UNESC, Terapeuta Ocupacional da Seven Senses -Espaço Pediátrico de Integração Sensorial – Florianópolis/SC
Tradução e adaptação: Equipe 3i+
POLÍTICA EDITORIAL: O site Universo TEA acredita que a educação é a chave para o sucesso no atendimento a pessoas com autismo e distúrbios relacionados. Trabalhamos para garantir que a seleção de recursos e conteúdos de autismo aqui publicados contribuam para a conscientização e apoio a famílias e profissionais que se dedicam ao autismo.
Observação: As informações contidas neste site não devem ser usadas como substitutivo de cuidados e aconselhamentos médicos.
Se Você gostou, CURTA E COMPARTILHE !! Obrigado.