O que são estereotipias
Para responder à pergunta, precisamos entender o que são estereotipias e quais são as causas.
As estereotipias, “stimming” em inglês, são os movimentos motores e comportamentos repetitivos, tais como:
- Agitar ou esfregar as mãos;
- Balançar o tronco para frente e para trás;
- Andar na ponta dos pés;
- Pular;
- Girar;
- Fazer movimentos repetitivos com as pernas;
- Bater palmas.
- Produzir sons
- Repetição de palavras ou frases (“stimming” vocal)
A diferença entre stimming autista e stimming normal é a causa, tipo e frequência do comportamento e a auto-regulação. Para crianças com TEA, a estereotipia ajuda a lidar com situações desafiadoras ou quando estão excitadas, felizes ou sobrecarregadas. Sob condições estressantes, estes comportamentos podem durar mais tempo.
Estimulação e Autismo
As estereotipias têm como objetivo trazer a pessoa para o presente regulando suas emoções. Quando alguém com autismo sente uma súbita onda de sentimentos, e essa energia precisa ir para algum lugar. A estereotipia fornece uma saída para essa energia.
Por exemplo, uma criança com TEA pode cobrir os ouvidos quando ouve outras crianças cantando. Além disso, mesmo não havendo um estímulo externo, pode também ser uma resposta a estímulos internos. Por exemplo, uma criança com TEA pode ter uma música tocando em sua mente e reagir cantando em voz alta no meio da aula.
Autoregulação
Teorias revelam que a estereotipia pode ser uma resposta a estímulos sensoriais excessivos (sobrecarga sensorial) ou insuficientes devido a déficits no processamento sensorial. Há consistência nestas teorias, pois observa-se que os comportamentos se repetem quando os mesmos estímulos são apresentados (por exemplo, uma criança brinca com um brinquedo que acende uma luz e ela bate as mãos excessivamente; posteriormente, ela produz a mesma resposta para outro brinquedo diferente que também acende uma luz).
A autoregulação é um mecanismo de enfrentamento a situações de superestimulação (para os hiper-responsivos) ou falta dela (para os hipo-responsivos), ajudando a criança a reduzir a ansiedade e se acalmar.
Para crianças não verbais, a estereotipia pode ser uma forma de expressar suas emoções que não conseguem fazer com palavras.
Não se deve reprimir a estereotipia
Tendo conhecimento de que a estereotipia pode ser um comportamento útil e que parece ser uma necessidade para crianças com TEA, vem novamente a pergunta: devemos reprimir a estereotipia?
Se a estereotipia que estiver ocorrendo não oferecer dano ou perigo para a criança ou para os outros, a resposta é “não”. Uma vez que ela auxilia na autoregulação para enfrentamento de estímulos insuportáveis, não devemos retirar um sistema essencial para sua vivência. Forçá-los a parar com a estereotipia, é o mesmo que dizer a uma pessoa para não chorar em uma situação muito triste. A repreensão pode levar a outros comportamentos que podem ser piores.
Embora a estereotipia seja descrita, muitas vezes, como comportamentos repetitivos e inadequados característicos de crianças com TEA, na verdade, a estereotipia é algo que todos nós fazemos. Comportamentos como roer unhas, balançar para frente e para trás, mexer com um lápis ou rasgar papel são coisas que muitos indivíduos neurotípicos fazem, quando estão nervosos ou ansiosos. E nesses casos, aceitamos esses comportamentos como “normais” devido aos padrões estabelecidos pela sociedade. Se pudermos reconhecer e entender que esses comportamentos são apenas um modo como indivíduos com TEA se expressam, não os veremos como estranhos, esquisitos ou diferentes.
Não reprimir, tentar compreender a causa e reduzir a estereotipia
Cada indivíduo é diferente, independentemente de ser diagnosticado com TEA. Embora seja sabido que estímulos sensoriais como ruídos altos e luzes brilhantes podem causar estereotipia em muitos indivíduos com TEA, cada um tem seus próprios limites sensoriais e formas de lidar com a super estimulação ou a falta dela. Haverá casos em que as estereotipias podem durar por um período prolongado, incomodando as pessoas ao redor (especialmente em um ambiente como uma sala de aula), onde será útil, ou mesmo necessário, reduzir o número de vezes e a duração da estimulação.
Podemos ajudar observando indivíduos com TEA, aprendendo sobre autismo, lendo artigos e entendendo seus comportamentos e a necessidade deles. Para tornarmos a nossa sociedade mais inclusiva, devemos adaptar o ambiente para atender às necessidades de todos, e não esperar que todos sejam iguais. Em locais controlados, como em casa ou na escola, podemos reduzir ou evitar que a estereotipia aconteça, fornecendo um ambiente mais adequado (por exemplo, alterando a posição do assento se a luz estiver distraindo o indivíduo, reduzindo o volume de sons ao seu redor, etc.).
Acabando com o preconceito
No entanto, em locais onde não temos controle das causas potenciais, é preciso que a sociedade aprenda a reagir de acordo, entendendo as possíveis razões por trás desses comportamentos. Com isso, estaremos fazendo com que o mundo seja mais compreensivo e inclusivo em relação aos indivíduos com TEA
Suporte emocional
É muito importante que a criança receba apoio emocional de pais e educadores. Pois pais e educadores desempenham um papel importantíssimo no desenvolvimento da autoestima e confiança da criança, oferecendo um porto seguro nos momentos difíceis. Assim a criança saberá com certeza que quando as coisas estiverem fora de controle, existe alguém que vai ajudá-la a superar isso. Também, aprenderá a saber que é aceito pela pessoa que dá esse apoio.
Resumindo, é recomendável que não haja repreensão e sim, compreensão das estereotipias e suas causas.
Tradução do artigo ´To Stop Stimming or Let it Happen: Why We Should Not Stop Stimming But Aim at Reducing it Instead?” publicado em HEALIS AUTISM CENTRE, disponível clicando aqui.
POLÍTICA EDITORIAL: O site Seven Senses acredita que a educação é a chave para o sucesso no atendimento a pessoas com autismo, síndrome de down e distúrbios relacionados. Trabalhamos para garantir que a seleção de recursos e conteúdos sobre autismo e síndrome de down, aqui publicados, contribuam para a conscientização e apoio a famílias e profissionais que se dedicam ao autismo e à síndrome de down.
Observação: As informações contidas neste site não devem ser usadas como substitutivo de cuidados e aconselhamentos médicos.
Publicado por: Maria Aparecida Griza (CIDA GRIZA)
Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise / PUCPR | Especialista em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa – Gerontologia / UFSC | Especialista em Rede de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência / UNESC | Formação em Integração Sensorial -LUDENS – Campinas/SP | Terapeuta Ocupacional da Seven Senses – Espaço Pediátrico de Integração Sensorial – Florianópolis/SC
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