SÍNDROME DE DOWN E DISFUNÇÕES SENSORIAIS

Processamento Sensorial e Síndrome de Down

O Sistema Sensorial

Ninguém tem um sistema sensorial funcionando perfeitamente. Todos nós temos preferências sensoriais e até necessidades sensoriais, exclusivas de como cada sistema nervoso central percebe e processa informações sensoriais. Imagine que seu sistema sensorial é uma rede elétrica. Quando há uma torção em um fio, isso pode fazer com que as lâmpadas pisquem. Às vezes temos uma “torção” em nosso sistema nervoso central, e isso leva a mensagens confusas em nosso sistema sensorial. Muitas vezes, podemos não saber o que está causando essa torção nem como impedir que nossas luzes internas pisquem. Quando o processamento sensorial é desordenado, o cérebro não pode realizar seu importante trabalho de organizar as mensagens sensoriais.

Transtornos de Processamento Sensorial (TPS)

Problemas de processamento sensorial podem afetar a maneira como uma pessoa se move e aprende. Podem também afetar o comportamento de uma pessoa: a maneira como realiza tarefas em casa, na escola ou no trabalho; e como interage com os outros. Quando temos problemas de processamento sensorial, podemos sentir toque, paladar, som, cheiro, movimento e outras sensações de maneira diferente. Alguns podem sentir sensações mais intensamente, outros sentem menos, e alguns simplesmente não obtêm informações sensoriais “corretas”.

TPS em Síndrome de Down

Transtorno de processamento sensorial são relativamente comuns em pessoas com Síndrome de Down, e certas dificuldades são mais frequentes que outras. No entanto, é importante lembrar que cada pessoa é única, e nunca se deve presumir que uma pessoa com Síndrome de Down terá os mesmos problemas sensoriais de outra. Além disso, embora os déficits sensoriais sejam frequentemente associados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), pessoas podem ter déficits sensoriais sem necessariamente ter um diagnóstico adicional de TEA.

Sistema proprioceptivo

Pessoas com Síndrome de Down podem ter distúrbios sensoriais relacionados à entrada proprioceptiva. A entrada proprioceptiva é a entrada sensorial para os músculos e articulações. Pessoas com Síndrome de Down tendem a ter baixo tônus muscular, o que pode afetar a forma como interpretam a entrada sensorial que chega através de seus músculos e articulações (Bruni, 2016). Frequentemente, elas exigem mais estímulo proprioceptivo em seus músculos e articulações para ajudar a regular o corpo. Isso também torna difícil regular a quantidade de força que geram com seus músculos; assim por exemplo, aplicar muita pressão a um objeto a ponto de quebrá-lo ou aplicar pressão insuficiente e ter dificuldade em segurar um objeto.

Saiba mais sobre disfunções do Sistema Proprioceptivo, clicando aqui.

Outros sistemas sensoriais

Disfunções de processamento sensorial podem tornar desafiantes tarefas simples do dia a dia, como tomar banho, vestir-se e comer. Muitas vezes indivíduos não toleram creme em sua pele, apesar de estar seca. Alguns não gostam de água tocando seu rosto, o que afeta o banho e a higiene. Pessoas com Síndrome de Down podem não gostar de usar meias, sapatos ou outras peças de roupa por causa da textura. A mudança de roupa de uma estação para outra também pode ser um problema.

Pessoas com Síndrome de Down também podem ter problemas alimentares relacionados aos sentidos. Por exemplo, elas são frequentemente seletivas a alimentos. Alguns podem encher a boca ao comer. Isso pode ser devido a déficits proprioceptivos; para que uma pessoa mastigue, ela deve sentir a comida na boca, e ela só consegue ter essa sensação com a boca cheia. Outros problemas de alimentação relatados incluem dificuldades em sentir sede ou saciedade (plenitude). Isso está relacionado ao sistema interoceptivo.

Saiba mais sobre Sistema Interoceptivo, clicando aqui.

Indivíduos com Síndrome de Down podem apresentar problemas auditivos relacionados aos sentidos. Muitas pessoas com síndrome de Down têm perda auditiva ou acúmulo de cera nos canais auditivos, o que pode abafar os sons. Alguns podem se sentir sobrecarregados por sons altos ou inesperados e outros preferem sua música em um volume alto. Para agravar esses problemas auditivos, muitas vezes eles têm dificuldades com o processamento auditivo. Assim, eles geralmente têm melhor desempenho com auxílio de recursos visuais ou instruções verbalizadas de maneiras simples e repetidas com frequência. A percepção de profundidade também é um desafio para muitas pessoas com Síndrome de Down e pode dificultar a subida e descida de escadas ou caminhar em superfícies irregulares (problemas no sistema vestibular).

Saiba mais sobre disfunções do Sistema Auditivo, clicando aqui.

Saiba mais sobre disfunções do Sistema Vestibular, clicando aqui.

Enfrentando os desafios sensoriais

Crianças com síndrome de Down que têm dificuldades sensoriais, precisam que esses problemas sejam tratados de modo a ajudá-las a viver o dia a dia sentindo-se reguladas.

Transtornos do processamento sensorial não são algo superado naturalmente; eles crescem e mudam com o tempo. É necessário um tratamento altamente individualizado que ajudará a criança a funcionar de forma mais tranquila.

Terapia Ocupacional

Um terapeuta ocupacional (TO) pode fornecer terapia direta em um ambiente ambulatorial ou terapia consultiva em um ambiente escolar. Um terapeuta criará uma dieta sensorial – um plano projetado e programado de atividades para atender às necessidades sensoriais específicas de cada criança. Algumas tentativas e erros podem ser necessários para determinar as “melhores” atividades sensoriais para cada pessoa.

Construir e implementar uma dieta sensorial é como escolher um menu e não como seguir uma receita (Johnson, 2016). Um dos principais objetivos de uma dieta sensorial é prevenir a sobrecarga sensorial e emocional, satisfazendo as necessidades sensoriais do sistema nervoso. Por exemplo, se uma atividade de dieta sensorial for feita antes de iniciar outra atividade, ela pode ajudar a criança a passar pela transição ou se preparar para uma mudança na rotina com mais facilidade (Johnson, 2016). No entanto, também pode ser usado como uma técnica de recuperação se a pessoa estiver sobrecarregada. Uma dieta sensorial pode ser implementada também em casa ou na escola.

Uma característica importante a ser lembrada, especialmente ao considerar aspectos de comportamento, é que as estratégias sensoriais nunca devem ser removidas como punição ou oferecidas como recompensa. Se uma criança tem uma dieta sensorial, é porque ela é necessária para um desempenho ideal, e o corpo começa a depender dela.

Atividades que fazem parte de uma dieta sensorial devem ser oferecidas periodicamente ao longo do dia. As pausas sensoriais podem ser curtas, muitas vezes apenas por alguns minutos. A entrada sensorial não deve ser fornecida durante o dia todo. Por exemplo, um colete com peso geralmente perde seu impacto após aproximadamente 10 a 15 minutos. É o mesmo que ocorre quando alguém coloca joias. Vai notar o colar ou o anel nos primeiros momentos, mas após algum tempo, geralmente esquece que está usando. É o mesmo com a entrada sensorial. Há um ponto em que o corpo se acostuma com a sensação e a sintoniza, tornando-a não mais eficaz.

Se quiser saber mais sobre Dieta Sensorial clique aqui.

Resumo

Em resumo, todos têm diferenças de processamento sensorial. Quando essas diferenças prejudicam a capacidade de uma pessoa de funcionar bem no dia a dia, pode-se considerar opções de terapia para ajudar. Porque pessoas com um sistema sensorial regulado, são mais capazes de prestar atenção, seguir instruções e ter um desempenho ideal. Isso é verdade para qualquer pessoa com ou sem síndrome de Down.


Extraído do artigo “Sensory Processing and Down Syndrome” publicado em ADVOCATE MEDICAL GROUP por Katie Frank, PhD, OTR/L – Occupational Therapist, Adult Down Syndrome Center. Original disponível clicando aqui


Referências

Bruni, M. (2016). Habilidades Motoras Finas em Crianças com Síndrome de Down . 3ª edição. Bethesda, MD: Woodbine House.

Johnson, D. (2016). Diferenciando sensorial de comportamento [apresentação]. Recuperado de https://summit-education.com/course/CSENDJ.1/differentiating-sensory-from-behavior#/onlinevideo/6-ceus​ .


POLÍTICA EDITORIAL: O site Seven Senses acredita que a educação é a chave para o sucesso no atendimento a pessoas com autismo, síndrome de down e distúrbios relacionados. Trabalhamos para garantir que a seleção de recursos e conteúdos sobre autismo e síndrome de down, aqui publicados, contribuam para a conscientização e apoio a famílias e profissionais que se dedicam ao autismo e à síndrome de down.

Observação: As informações contidas neste site não devem ser usadas como substitutivo de cuidados e aconselhamentos médicos.


Publicado por: Maria Aparecida Griza (CIDA GRIZA)

Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise / PUCPR    |     Especialista em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa – Gerontologia / UFSC    |    Especialista em Rede de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência / UNESC    |     Formação em Integração Sensorial -LUDENS – Campinas/SP   |     Terapeuta Ocupacional da Seven Senses – Espaço Pediátrico de Integração Sensorial – Florianópolis/SC


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